sexta-feira, 21 de junho de 2019

Bairro do Charco via Serra do Gomeral






Minha aventura teve início na cidade de Wencelau Braz ( MG ), onde começa a estradinha de terra no Bairro do Quilombo a 1100 m de altitude e sobe por 14 km pelas encostas da serra até o planalto acima dos 1700 m de altitude onde fica o povoado do Bairro do Charco.
Os primeiros 8 km de subida passamos por uma área desmatada, dominada pelo reflorestamento e pastagens. Ao atingir aproximadamente os 1600 m de altitude, logo que passamos a Fazenda Campo dos Ventos a vegetação é mais preservada e lindos mirantes vão surgindo.
No ano passado estive no Bairro do Charco vindo do horto florestal de Campos do Jordão e como não havia vagas na única hospedagem local, fui obrigado a descer a serra pois não estava preparado para acampar. Este ano resolvi voltar ao pequeno povoado localizado a 1720 m de altitude que fica a 14 km de Wenceslau Braz e 35 km de Campos do Jordão. Um paraíso para quem aprecia uma paisagem serrana cheia de histórias de frio e neve contadas pelos poucos habitantes desse gelado povoado. 
A estrada até o Charco passa por densas matas de araucárias.

Algumas curvas bem acentuadas antecedem o pequeno povoado.

Neste dia não fazia muito frio e mesmo assim ao chegar no Bairro do Charco por volta das 9:00 h da manhã havia um pouco de geada. Comprovando o verdadeiro congelador natural que é esse local.
É muito interessante conversar com os moradores do Bairro do Charco, principalmente os mais antigos. Todos afirmam que o clima mudou muito e não faz frio como antigamente. Dizem que até a década de 90 era comum ver geadas intensas e fortes congelamentos e até a década de 60 era possível ver neve nessas montanhas. A última nevada que caiu na região foi em 1966.
Igreja do Charco.

Atrás da igrejinha tem uma elevação com um belo visual da região.


Visual das propriedades isoladas entre as araucárias.

Sigo em direção da Fazenda da Onça por uma estradinha de terra que passa pela exuberante floresta ombrófila mista que domina a região.

Entrando nos limites da Fazenda da Onça.

A estrada para a fazenda é feita quase toda dentro da mata, com algumas clareiras como essa que nos presenteia com lindo visual.


Lago da fazenda.

Casarão sede da Fazenda da Onça localizada entre 1600 e 1700 m de altitude numa área de mata fechada

Sigo um pouco além do programado em direção a Pousada do Barão.

A estradinha de terra segue pela mata fechada em um percurso de 16 km. 

Um lindo visual da região se abre ao sair da mata. Imagino que aquele morro mais alto seja o Pico do Carrasco.

Fiquei fascinado com a paisagem que encontrei no caminho.
As araucárias sempre dominantes na paisagem 
 Portão da Pousada do Barão fechado. Em uma breve conversa com um senhor que vive no local fiquei surpreso ao descobrir que a pousada fechou em 1998. O solitário senhor nascido na região narrava a época em que a pousada recebia turistas e como o clima vem mudando. Contava o homem; que naquela época as árvores amanheciam congeladas e o gelo pesava nos galhos, fenômeno nunca mais visto na região.

De volta ao Bairro do Charco apreciando os lindos vales cobertos por densos bosques de coníferas.



O Bairro do Charco fica perto da divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Sigo em direção da divisa que fica a aproximadamente 1900 m de altitude e possui um belo visual da região.




A divisa dos estados passa no alto desse morro que atinge aproximadamente os 1900 m de altitude, já a estradinha de terra que vem do horto florestal atinge os 1870 m de altitude.
Visual do alto da divisa
As placas marcam a divisa dos estados.
A direita segue para o Bairro do Charco e pela esquerda para os povoados da Roseta e Itererê.


Uma propriedade particular a 1800 m de altitude perto da divisa dos estados.
E perto da divisa o visual é impressionante.

É possível avistar o Bairro do Charco com suas casinhas de madeira no fundo do vale e no alto a direita o Pico dos Marins.

Temos um belo visual da região de Campos do Jordão.
Podemos avistar os contrafortes da Pedra do Baú e o Pico do Imbiri.
Morros de Campos do Jordão.
É possível avistar o observatório astronômico do Pico dos Dias com 1864 m de altitude em Brazópolis.
Vista para a região de Wenceslau Braz e Delfim Moreira no sul de Minas.
O que mais me fascina nessa localidade são os bosques de araucárias e podocarpus, muito bem preservados.
Pinheirinho Bravo ( Podocarpus ) junto com a araucária formam os únicos pinheiros nativos do Brasil. 


É um local de grande importância ecológica por abrigar o que restou das araucárias em alto nível de conservação em nosso país. Até a década de 90 restava 2% da mata de araucárias, atualmente ( 2019 ) resta apenas 0,8 % .


No dia seguinte realizei uma travessia que tem seu início próximo a igreja e sobe pelos morros mais altos da região até uma localidade conhecida como Carneiros. Essa trilha é usada por romeiros que atravessam a região em direção ao santuário de Aparecida. 

Descobri que ao lado de uma plantação de pinus ( foto acima ) poderia descer por uma estradinha de terra até o fundo de um vale onde encontraria a trilha principal, sendo assim evitando alguns trechos de muita lama.

A trilha passa pelo vale dentro da floresta e sobe até o alto desses morros que atingem os 2000 m de altitude.

Descendo até o vale.





Chegando no fundo do vale encontramos a trilha principal.

A trilha passa dentro da mata fechada.

Visual do interior da mata.

Algumas clareiras vão surgindo.




Parece uma mata nebular com araucárias.

A trilha é bem demarcada e é feita praticamente toda dentro da mata. 



Uma grande clareira se abre e uma placa em um pinheirinho bravo isolado indica a direção. 


Inicio da primeira grande subida da travessia


Lá embaixo avisto a floresta por onde passei horas atrás.


Contemplando um dos últimos refúgios selvagens da Mantiqueira.

Chegando no topo.


  

Ao chegar no topo a trilha entra novamente na mata.


Após vencer o trecho de mata, avistamos essa araucária solitária e temos inicio a segunda grande subida. 


Ganhando altitude é possível avistar com nitidez a plantação de pinus onde comecei a caminhada ( a direita da foto )

Último trecho de mata que antecede o ponto mais alto da travessia.

No topo a 1950 m de altitude existe uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e uma cerca que acredito ser a divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo.

Visual do ponto mais alto da travessia conhecido como Mirante da Santinha.

Este é o trecho mais perigoso para os romeiros que fazem a travessia até a cidade de Aparecida, devido o isolamento e a altitude a trilha se torna um desafio, pois o clima é imprevisível podendo ocorrer densos nevoeiros a qualquer momento e no inverno as temperaturas podem baixar a valores negativos.




Visual desde os 1950 m de altitude.

A trilha agora desce suavemente em direção ao interior do imenso platô.



Desse ponto é possível avistar a Serra da Bocaina que fica do outro lado do Vale do Paraíba.
Uma exuberante floresta a quase 2000 m de altitude.

A trilha passa dentro da floresta e depois de alguns minutos se tem inicio a terceira e ultima grande subida.


Ao atingir o topo se tem uma vista inusitada. É possível avistar desse ponto o Maciço das Agulhas Negras , Serra Fina e Pico dos Marins.

Agora uma intensa descida pela estradinha erodida.

Tenho a primeira vista das duas casas de propriedade da Fazenda Lavrinhas.

Enfim consegui chegar na região conhecida como Carneiros.





Neste trecho é impossível não molhar os pés.




Chegando nas propriedades da Fazenda Lavrinhas onde fica o portão.
Se o portão estiver fechado é preciso pedir ajuda aos funcionários da fazenda.






Visual da casa sede da Fazenda Lavrinhas no alto do morro.

Essa região é chamada de Carneiros e é o local mais frio de todo planalto. No local existe poucas pessoas , a maioria delas são de funcionários da fazenda Lavrinhas, já que viver a mais de 1900 m de altitude é ter que suportar uma rotina de frio o ano todo e de solidão.


O frio no Carneiros assusta até quem vive no local. Conta os moradores que a água congela nas torneiras e a geada já é companheira, já que começa em abril e vai até setembro. Os mais antigos relembram de invernos mais rigorosos e até queda de neve.

O Carneiros possui uma vegetação de campos de altitude com capões de matas nebulares.


Extensos vales alagados a quase 2000 m de altitude.


Vegetação característica dos locais mais altos da Mantiqueira. 





Outra propriedade da Fazenda Lavrinhas.


Um bosque de araucárias acima dos 1900 m de altitude.




Deixo o Carneiros e sigo em direção a São José dos Alpes.




Vegetação adaptada ao frio rigoroso da região. 

A esquerda segue para o Carneiros e pela direita segue para a Serra do Gomeral.


Antes de descer pela estrada das pedrinhas na Serra do Gomeral resolvi passar rapidamente pela região de São José dos Alpes.


A caminho de São José dos Alpes a estradinha passa dentro de lindos capões de matas nebulares.




Não fui muito longe porque a neblina baixa impedia apreciar a paisagem.


Voltei em direção ao Gomeral e cheguei na Pousada Santa Maria da Serra a 1890 m de altitude. 


A pousada é um importante ponto de descanso para os romeiros.

Inicio da descida da Serra do Gomeral.



Do alto do Gomeral é possível avistar várias cidades do Vale do Paraíba, até mesmo a  basílica de Aparecida.


Uma clareira e mais uma linda vista.

A Serra do Gomeral é cheia de curvas e muitas pedras soltas.

A estrada é muito íngreme e as pedras soltas são um verdadeiro obstáculo.

 


Vou descendo o Gomeral e deixando as terras altas e frias para trás.

Neste trecho já não fazia mais frio e a floresta deu lugar as pastagens e aos eucaliptos. Agora é descer mais um pouco em direção ao Vale do Paraíba até a rodovia presidente Dutra e voltar pra casa.

















































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