sábado, 15 de maio de 2021

Vale das Araucárias

Localizado na Serra da Mantiqueira, o Parque Estadual da Serra do Papagaio (PESP), com 22.917 ha, ocupa parte dos municípios de Itamonte, Alagoa, Pouso Alto, Aiuruoca e Baependi, MG. O parque abriga o pouco que restou da mata atlântica de encosta, matas de araucárias, campos rupestres e campos de altitude. Dentro do parque encontramos vários picos como o Pico do Papagaio ( 2105 m de altitude ) , Pico da Bandeira ( 2357 m ) e o ponto culminante o Pico do Santo Agostinho ( 2380 m ) também conhecido como Pico do Garrafão.
Dentro do parque ha aproximadamente 1200 nascentes , 240 cachoeiras e 28 cânions além de várias trilhas de diferentes níveis de dificuldade que podem ser feitas em um dia e também travessias de até 3 dias.                                
 É final de abril estamos no outono, porém nessas terras altas o inverno parece que já chegou faz tempo e as primeiras geadas começam a queimar a vegetação e as temperaturas negativam com mais frequência até serem quase que diárias em julho. 
Minha aventura começou na localidade do Vale do Charco aos pés do Pico Santo Agostinho. Sigo em direção a sede do Parque Estadual da Serra do Papagaio, antiga Fazenda Santa Rita, onde começa a trilha do Vale das Araucárias.

O ribeirão do Santo Agostinho percorre o vale do Charco e possui uma floresta ciliar composta principalmente de araucárias e pinheiro bravo. Estima-se que no interior do parque haja mais de 2 milhões de araucárias nativas, isso faz dessa unidade de conservação a maior reserva de araucárias do estado de Minas Gerais. 
Inicio da trilha ao lado da sede do parque 
São 6 km de trilha a uma altitude de aproximadamente 1600 m acima do nível do mar que acompanha o curso do ribeirão do Santo Agostinho formando várias quedas d'água e poções. No inverno as noites são sempre muito frias e as geadas frequentes , a temperatura minima registrada nessa localidade foi de -6°C negativos. 
No inicio entramos na mata fechada e logo encontramos uma mega araucária.


Mais uma enorme araucária aparece no primeiro km da trilha.



Neste trecho passamos por uma área alagada.



A trilha é bem demarcada e relativamente fácil.
Os pinhões estão espalhados pela trilha.

Um belo exemplar do pinheiro bravo ( podocarpus lambertti ) muito abundante na Serra da Mantiqueira, aparecendo sempre junto das araucárias.

Deste ponto avistamos a casa sede do parque pela ultima vez.
A trilha alterna entre campo aberto e mata fechada por suaves ondulações, sempre acompanhando a margem esquerda do ribeirão do Santo Agostinho, também chamado de ribeirão do Charco. 
O interior da mata é repleto de bromélias.
Essa mata possui características nebulares com pequenas árvores de troncos retorcidos. 
Aqui a trilha entra novamente na mata fechada até a margem do ribeirão.

Me impressionei ao encontrar esse lindo exemplar de xaxim ( dicksonia sellowiana ).
Nessa região o xaxim aparece bem isolado e em número bem reduzido. Me recordo de caminhar por trilhas entre milhares de xaxins gigantes bem maiores que esse nos municípios de Urupema , Urubici e São Joaquim na Serra Catarinense.
É triste imaginar que cortavam o xaxim para a confecção de vasos de planta. Atualmente o xaxim junto com a araucárias estão ameaçados de extinção, graças a exploração inconsciente e irresponsável.





Saindo da mata a trilha sobe por uma elevação onde podemos apreciar um mar de coníferas
Floresta dominada exclusivamente pelas araucárias e o pinheirinho bravo.




Mais um gigante aparece pelo caminho.


Algumas araucárias jovens parecendo um pinheirinho de natal enfeitam ainda mais o caminho.

Neste ponto uma placa indica a direção e marca 3,5 km , pouco mais da metade da trilha.

Ao vencer a subida um lindo bosque puro de araucárias surge na paisagem.

Vejo algumas araucárias gigantescas no interior desse lindo bosque.
O alto dos morros que acompanham a trilha é dominado pelas candeias ( Eremanthus erythropappus ) , espécie comum nas alturas da Mantiqueira. A candeia é muito explorada para a fabricação de perfume e pela durabilidade de sua madeira e isso vem reduzindo suas populações drasticamente, já que tudo que fica fora das reservas vem sendo brutalmente exploradas.
Mais uma vez entramos na mata para apreciar um lindo poço com uma pequena cachoeira. 




Saindo da mata sigo trilha acima até este ponto onde é possível apreciar o poção onde passei minutos atrás.
São milhares de pinheiros nativos 
Do alto da trilha com belo visual da mata de araucárias que sobe pelos contrafortes desse magnífico planalto. 


A trilha superou todas as minhas expectativas, sendo uma das paisagens mais deslumbrantes com araucárias que podemos encontrar na região sudeste.
Outras localidades com forte concentração de araucárias na região são Campos do Jordão ( SP ) , São Bento do Sapucaí ( maciço do Baú SP - MG )  Camanducaia ( entre Monte Verde, Gonçalves e Sapucaí Mirim MG ) , Itajubá ( Serra da Água Limpa MG ), Delfim Moreira ( Bairro do Charco e Serra de São Bernardo MG ), face norte do maciço do Marins e Itaguaré ( MG ), face norte do maciço das Agulhas Negras ( Serra Negra, Serra da Colina MG ), maciço da Mitra do Bispo ( Alagoa e Bocaina de Minas MG ) e Serra da Bocaina ( SP - RJ ).
Essa talvez seja a floresta de araucárias mais setentrional do Brasil. Há relatos da ocorrência  da araucária nas proximidades de Ouro Preto ( MG ), porém bem isolada não formando floresta. O mesmo acontece na Serra do Caparaó ( MG - ES ) onde a araucária aparece isolada na mata em número bastante reduzido. No sul do estado de São Paulo ( Apiaí, Itararé e Itapeva ) ocorre a araucária porém muito degradada. No município de Cunha ( SP ) a araucária foi introduzida pelo homem e hoje faz parte da paisagem. O mesmo acontece na Serra dos Orgãos ( Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo RJ ), onde a araucária se adaptou muito bem, mesmo não sendo nativa.  


Ao descer pela trilha encontramos uma casinha de madeira.

Ao passar pela casinha a trilha volta a subir e o visual da floresta no fundo do vale aparece novamente.


Nesse ponto parei para apreciar o vale e ouvia a gritaria das Gralhas de Topete que habitam essas matas.
A trilha sempre acompanhando a margem esquerda do ribeirão.

Uma enorme queda d'água surge no fundo do vale.

Já é possível avistar o final da trilha.

E depois de 6 km de pura beleza paisagística a trilha do vale das araucárias termina. O que se vê pela frente é o ribeirão do Santo Agostinho descendo pela encosta da serra cercado pela mata fechada.  
Uma bela surpresa
Uma linda cachoeira com um grande poção no final da trilha do vale das araucárias. E a natureza sempre surpreendendo.