quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Parque Nacional de São Joaquim e Campos de Santa Bárbara ( 2° Dia )

Um dia é pouco para desbravar os Campos de Santa Bárbara, já que possui muitas atrações. Ontem estive caminhando por esse magnífico platô e como não é permitido acampar no local tive que voltar para Vacas Gordas onde passei a noite em uma pousada.
O programado era seguir para Urubici em busca de outras aventuras, mas senti uma forte atração pelo lugar que provavelmente deve ser o local onde mais neva em nosso país. Então decidi voltar para os Campos de Santa Bárbara para contemplar um pouco mais essa maravilhosa paisagem.
Caminhada acima dos 1700 m de altitude.
Sempre acima da linha das árvores.

Ao caminhar pela crista dos morros passamos por lindos mirantes naturais.

É possível observar do alto desses morros o vale do rio Pelotas que nasce no parque e segue em direção a Bom Jardim da Serra e bem distante a borda da serra onde fica o Cânion Laranjeiras.
Depois do Morro da Igreja com 1822 m de altitude, as elevações mais altas do parque estão nos Campos de Santa Bárbara com vários morros acima dos 1700 m de altitude.



A medida que caminhava, a trilha as vezes passava dentro das matas nebulares que dominam as encostas e fundo dos vales da região.



Essas matas de araucárias são sem dúvida as mais belas que já vi. O contraste do verde das matas com o dourado dos campos para mim é fascinante. É uma pena que muitas matas como essas foram derrubadas para dar lugar as pastagens. Dentro do parque encontramos muitas áreas de campos que no passado foram cobertos pela floresta.
A madeira da araucária é de ótima qualidade e isso fez suas matas chegarem a beira da extinção. Infelizmente em regiões de climas frios os habitantes precisam de lenha e o desmatamento chega ser questão de sobrevivência. Na serra catarinense todos os moradores possuem fogão a lenha ou lareira em suas casas e para abastecer tudo isso é preciso muita madeira.
Visual do pouco que restou da mata de araucárias em alto nível de preservação em nosso país. Mesmo essas matas dentro de uma unidade de conservação já sofreram alguma interferência humana , principalmente com o corte seletivo que derruba as araucárias maiores sendo assim enfraquecendo geneticamente a espécie.

Nessa altitude de aproximadamente 1700 o clima é imprevisível mudando rapidamente. O sol era forte e de repente o tempo fechava e esfriava me obrigando parar por alguns minutos até o nevoeiro passar.
Chegada no ponto mais alto da trilha.

Visual de uma fazenda no fundo do vale. Ainda existe famílias que não foram indenizadas vivendo dentro dos limites do parque nacional.
Uma breve parada e um olhar apreensivo para o nevoeiro que se formava pelo lado da borda da serra.



Bela paisagem que lembra muito uma estepe. Digo isso pois conheço a Patagônia.





Muitas trilhas como essa cortam as matas do parque, mostrando que no passado toda região estava sendo explorada. É possível ver vários caminhos dentro das matas comprovando que no passado houve o corte seletivo das araucárias.






Mesmo com todos os problemas ainda assim é possível encontrar remanescentes intocados da mata de araucária em pequenos fragmentos no interior do parque.




Vegetação adaptada ao rigoroso inverno da região mais gelada do país.


Admirando essa paisagem as vezes ficava imaginando como era difícil a vida dos moradores locais. Como se adaptar a uma atmosfera tão fria, onde em poucas horas é possível ter sol, chuva, frio, nevoeiro...

Vale lembrar que nessa região ocorre geadas em todos os meses do ano. Isso signifíca que até no verão o frio se faz presente, e o inverno é rigoroso com nevadas espetaculares. Os moradores da região costumam dizer que por ser preservada e mais alta a região de Santa Bárbara é mais fria e neva mais que nas áreas urbanas de suas vizinhas Urubici, São Joaquim, Bom Jardim da Serra e Urupema.

Os mais antigos contam que no passado nevava com mais frequência e mais intensidade. Era comum nevar forte quase todos os anos até a década de 90. Atualmente mesmo nevando todos os anos as grandes nevadas são registradas apenas uma ou duas vezes por década.
Fico imaginando as décadas de 50, 60 , 70 e 80 quando as massas polares levavam neve até a Mantiqueira ( SP, MG, RJ ), como as nevascas de 1957 que cobriu São Joaquim com 1,5 m de neve e a de 1985 em Itatiaia com 1 m de neve.




Bosques de arbustos de pequenas folhas e troncos retorcidos adaptados ao frio extremo.











O Parque Nacional de São Joaquim foi criado em 6 de julho de 1961, para proteger os últimos remanescentes intocados de araucárias.
Quando o parque foi criado a araucária já havia sido muito explorada na região e belíssimas áreas repletas de atrativos naturais ficaram de fora dos limites do parque.
Matas assim bem preservadas são cada vez mais raras já que resta menos de 1% de sua área original.





O verdadeiro reino das araucárias.
Paraíso da gralha azul.



O Parque Nacional de São Joaquim é uma relíquia preciosa já que protege parte da porção mais gelada do país, além das matas nebulares, araucárias e campos de altitude. Tem um clima um tanto que especial sendo um dos poucos locais no Brasil onde neva todos os anos.

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